Certificações responsáveis uma tendência ou uma necessidade? Parte 2- Responsabilidade Social

 


Certificações responsáveis uma tendência ou uma necessidade?

por Adson Naccarati

Parte 2 — Responsabilidade Social

Nesta série de postagens sobre as certificações responsáveis, vamos conversar um pouco sobre a situação atual dos pilares principais que apoiam essa categoria de reconhecimento.

As chamadas certificações responsáveis, são um grupo de certificações baseadas em normas com focos muito específicos, que se deslocam do eixo mais clássico de garantia de produto e serviço para clientes.

Se você perdeu a parte um, lá nós falamos sobre o meio ambiente, confira:

 https://blog.anaccarati.com.br/2021/08/certificacoes-responsaveis-uma.html

A responsabilidade social.

Antes de tudo, vamos falar um pouco sobre esse conceito moderno de responsabilidade social.

O assunto não é novo, de certa forma, as primeiras iniciativas de responsabilidade social tiveram uma origem nos próprios governos, através de legislações trabalhistas que procuravam atender a demanda de emprego de qualidade para a sua população.

Naquela oportunidade, a responsabilidade social limitava se aos direitos de trabalhadores, transformados de um homem do campo para uma pessoa que iria viver dentro de uma área de produção industrial.

Era um momento de uma mudança muito drástica, não só do ponto de vista do trabalhador, que perdia grau de liberdade que tinha no campo, muitas vezes em regime quase nômade circulando de fazenda em fazenda, mas também uma mudança drástica no empregador, cujo limite era a sua própria consciência, pressionada pela necessidade de lucro.

Histórias à parte, muita água rolou por baixo desta ponte, e a parte de legislação chegou a um nível bem aceitável na maioria dos países e das sociedades.

Neste nível de desenvolvimento das leis trabalhistas, as sociedades começaram a perceber que muitas de suas necessidades não podiam ser resolvidas deste ponto de vista tão formal ou regulamentar. Assim, as atenções obviamente se voltaram para as oportunidades de emprego, sejam essas oportunidades em empresas públicas ou privadas.

Agora, o papel da empresa, do empregador, e do próprio governo, está muito mais focado no atendimento da necessidade da sociedade.

Isto abriu outra face da questão social. Ofertar um emprego de qualidade, com salário justo, não é suficiente para o desenvolvimento de uma sociedade saudável. Temos muitas provas disso na atualidade, à exemplo de países cujo nível salarial e de emprego são excelentes, mas padecem com níveis altíssimos de suicídios, casos de patologias sociais como depressão, ansiedade e outras mazelas psicológicas. Uma sociedade assim não pode ser considerada saudável.

Considerando-se que um trabalhador médio, envolve-se com questões de trabalho em torno de quase metade do seu dia, estamos dizendo que 50% da qualidade de vida de uma sociedade (do trabalhador e dos indiretos) acontece dentro de um local de trabalho.

Então, a responsabilidade social, parte da premissa de atendimento total ao elenco de leis e normas vigentes, e foca em vencer desafios de atendimento das expectativas de qualidade de vida de uma sociedade.

Traduzindo isso, podemos pegar o caso de cidades que nasceram a sombra de empreendimentos. As famosas cidades-fantasma do Oeste americano, são exemplos de como o emprego e a iniciativa de empreendedorismo impactam na sociedade ao entorno: nasceram, prosperaram e morreram com os empreendimentos.

Levando isso à nível nacional, o conjunto de boas práticas levada à cabo por empresas, são fundamentalmente precursores de índices de qualidade de vida de um país.

Se você considerar que a qualidade de vida de uma sociedade afeta todos, dentro destes “todos”, temos investidores e os próprios empresários. O interesse numa postura sócio responsável, é igualmente interessante para todos os players deste jogo.

A conscientização cada vez mais forte dos investidores sobre essas verdades que acabamos de discorrer, empurra um movimento sem precedentes de atenção social por parte de institutos, empresas, organizações de todas as espécies e do próprio governo.

Assim, nasceu este pilar das certificações responsáveis. O pilar da responsabilidade social, mensura todas as iniciativas e a própria postura das empresas em relação à sociedade, e não só apenas aos seus colaboradores.

Assim como a questão ambiental, tratada no primeiro artigo, a questão social interessa a todos nós.

Como ser socialmente responsável?

A pessoa que trabalha em uma empresa de 20 funcionários é a mesma pessoa que trabalha em uma empresa de 20.000. Essa é a primeira frase que você tem que lembrar quando estiver tratando deste assunto.

O colaborador em última análise, é a maior ponte que liga a empresa à sociedade ao seu entorno. Valorizar o colaborador, utilizar as suas informações e as suas percepções, é um bom início para pensar em alguma iniciativa social.

Aqui trata se de ter criatividade, e não ter dúvidas em fazer aquilo que se pode.

Assim como no último artigo, vou citar algumas iniciativas, que talvez você possa aproveitar ou adaptar à sua realidade.

Stakeholder Maps

Trata-se de um mapeamento de todas as partes interessadas na organização. A função deste mapeamento é fazer um estudo um pouco mais atento, de todos que têm interesses na existência da própria organização. Parceiros comerciais, governo, sociedade, vizinhança, colaboradores, sócios, concorrentes (sim, quantas decisões são tomadas em uma empresa reagindo à concorrência?), fornecedores, distribuidores, etc. São exemplos de todas estas partes interessadas. Com este estudo, você poderá facilmente identificar quais são os valores e os interesses de cada um.

Nossa Empresa

São programas voltados para a vizinhança.  Particularmente aplicado às empresas cujos produtos e serviços, são usados pelo consumidor final, como alimentos,  bebidas, etc. É uma iniciativa que cria possibilidade de vender a preços muito baixos, por vezes subsidiados, produtos cuja qualidade é equivalente aos vendidos para outros destinos, para pessoas da vizinhança ou do entorno.

Programa de turn over

Trata-se de um programa de monitoramento em tempo real da variação da mão de obra, por meio de uma medida do fluxo de contratações e demissões. É uma busca incessante para diminuir esse fluxo, como meio de medir indiretamente, o nível de interesse que a sociedade tem em participar da organização. Quanto menor for este fluxo, maior o interesse que a sociedade tem em ficar nos quadros de colaboradores.

Ações Sociais Diversas

Aqui trata-se da participação ativa entidades sociais, não só com a ajuda de capital, mas muitas vezes, fornecendo produtos, instalações e espaços, e tudo aquilo que a organização pode contribuir com entidades sociais. Nesta categoria ainda, as organizações podem contribuir também com a educação e a formação profissional, promovendo cursos e treinamentos para a sociedade ao entorno, dentro de suas instalações ou em instalações mais apropriadas.

Além de programas mais elaborados como os que foram citados aqui, um foco sócio responsável, deve preocupar-se com contratações igualitárias, de pessoas com deficiência,  programas de capacitação profissional para jovens, programas de inclusão para terceira idade, etc. 

Como eu disse, criatividade!

 

Conclusão

As iniciativas sociais, talvez sejam o caminho de saída de uma crise populacional que já mostra sua presença em algumas sociedades. A questão do emprego e do trabalho, é a preocupação do futuro, de mãos dadas com o meio ambiente.

A responsabilidade social interessa a todo mundo, e interessa também aos fundos de investimento.  Já ouviu o termo “investimento responsável”?

Uma empresa socialmente responsável, tem a sua imagem associada a tudo o que é bom, e o seu produto ou serviço vai no vácuo disso. Isso é tão verdade, que em alguns casos a empresa socialmente responsável, é substituída por “produto socialmente responsável”.

Hoje mais do que nunca, com a facilidade e o volume de informações, o consumidor pode avaliar inclusive, estas características sociais, que deram origem ao produto que está comprando.

E se se esses argumentos ainda não forem suficientes, contabilizados os custos, os programas sociais são extremamente menos impactantes, do que alterar uma imagem negativa de um produto, que necessitaria de cifras consideráveis junto a iniciativas de marketing.

Talvez encarar o desafio sócio responsável, seja mais uma questão de quebra de paradigmas, do que necessariamente uma dificuldade administrativa.

Pense nisso.

Sucesso!


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