Metaverso hoje: o essencial sobre o assunto

 

Metaverso hoje: o essencial sobre o assunto

por Adson Naccarati

Se você não estava dormindo numa câmara criogênica nos últimos 10 anos, já deve ter acompanhado várias notícias sobre a mais nova novidade que o Facebook bolou: o Metaverso.

O assunto está sendo levado tão a sério pela empresa de Mark Zuckerberg, que até a denominação Facebook foi substituída pela nova marca Meta (para ajustar à palavra Metaverso...boa jogada)

Metaverso é a definição de um ambiente digital, que procura reproduzir no ambiente 3D, o que nós já temos de graça na vida real. A vantagem de trabalhar num ambiente como esse, é não ter a necessidade de estar fisicamente presente, e como efeito colateral, poder utilizar várias ferramentas digitais que nós usamos no dia a dia, como arquivos em nuvem, por exemplo, em tempo real e com pessoas que podem estar a milhares de quilômetros de distância.

Evidentemente o evento da pandemia acelerou esse processo, mas a ideia já existia e já era trabalhada há muito tempo.

Para os teóricos da conspiração de plantão, o Metaverso não tem nada de novo. O Metaverso já existe no mundo dos videogames há pelo menos 15 anos.

Se você está inteirado no mundo dos games, ou se conhece alguém que esteja, ou mesmo se já tentou dormir ao lado de alguém que estivesse em uma partida animada com os amigos, sabe bem do que eu estou falando.

Existem inúmeras soluções que os gamers utilizam para interagir, estar em um mesmo ambiente digital, seja precisamente igual a um campo de batalha de 1940, ou um ambiente espacial surreal, na pele de um alienígena totalmente teórico.

Estes mundos digitais não têm limites. Funcionam 24 horas, muitas vezes em servidores particulares, agregando um número monstruoso de jogadores que supera qualquer megaempresa do mercado.

Isso significa que a tecnologia para o Metaverso não precisa ser desenvolvida, e sim adaptada a partir de uma tecnologia que já existe hoje.

Consequentemente isso traz a sensação de brevidade para a utilização desta tecnologia nos escritórios, nas fábricas e até do campo.

E aí está o principal problema que o Metaverso vai ter que resolver. Todo gamer que se preza e que vive neste metaverso, é um sobrevivente tecnológico digital. Possui um vasto conhecimento de componentes de computadores, programas, macetes de rede, e um ávido frequentador de fóruns técnicos para a resolução de problemas dos jogos que curte.

Muito diferente daquela pessoa com 30 anos de empresa, que sofreu barbaramente quando teve que utilizar o Word, e não cansa de tecer comentários negativos sobre o sistema da empresa.

O desafio do Metaverso é ser aplicado a qualquer pessoa comum.

Fora isso, existe uma adaptação natural, que diz respeito ao contexto em que o Metaverso será utilizado. Uma coisa é você atirar nos seus amigos digitalmente, outra é você coordenar uma equipe realizando uma reunião onde os resultados devem ser obtidos, muitas vezes com consequências complicadas frente a um vazamento ou mesmo frente a uma falha de comunicação.

Se você já participou daquelas reuniões tensas, sabe o quanto é importante ter noção da reação das pessoas frente ao andamento dos trabalhos. Nas reuniões remotas, por exemplo algumas pessoas sentem-se incomodadas com a Câmera ligada e outras ficam incomodadas se ela estiver desligada. Como as pessoas vão reagir quando a sua presença na reunião for na pele de um boneco?

Brincadeiras à parte (os psicólogos por favor me ajudem a explicar isso) mas será uma relação complicada.

Tive a oportunidade de assistir um trecho de reunião de prefeitura, de uma cidade no Brasil, autointitulada como sendo a primeira reunião no Metaverso do poder público realizada no Brasil.

O trecho que eu pude assistir, divulgado no YouTube, mostrava uma mesa com alguns bonequinhos sentados, (os famosos avatares) com uma expressão sorridente (e claro imutável) e correspondendo ao gênero declarado de cada participante.  O signatário da reunião, discorria sobre assuntos de concorrência pública, aplicação de valores financeiros entre outros assuntos bem sérios. Infortunadamente, peguei o momento mais tenso, onde o signatário pedia explicações sobre quebra de verbas, e um dos participantes com aquele sorriso digital no rosto e aquele jeito de Homer Simpson, tentava se explicar.

Isto sem contar que a cena era bem animada, com os avatares se mexendo automaticamente na cadeira para demonstrar estarem presentes...

Então como nós podemos ver, o caminho ainda é longo.

O Metaverso tem um avô que ficou bastante conhecido quando foi lançado: o Second Life. Trata-se de um jogo onde você pode assumir uma identidade qualquer, ser o que você quiser, e viver em um ambiente social, com outros jogadores, interagindo com eles em um mundo aberto, que corresponde muito com a vida real. Você pode se casar, namorar, trabalhar, fazer amizades, enfim, viver uma segunda vida mesmo. Vale a pena você olhar na internet se você não conhece.  Você pode, inclusive fazer compras com uma moeda digital própria, e mais recentemente fazer reuniões de negócios e vender produtos reais.

Eu creio que as maiores dificuldades para que o Metaverso funcione de maneira simples, sem você ser um especialista gamer, bate em 2 problemas básicos: os equipamentos de imersão tridimensional, como óculos 3D, por exemplo. Estes mimos têm um custo aproximado hoje de 500 USD a unidade. Um computador completo capaz de rodar confortavelmente esses ambientes gráficos, não sai por menos de outros 300 a 600 USD.

O outro problema diz respeito à tecnologia. Questões de segurança, estabilidade de conexões, conhecimento de usuário... enfim, toda a parte ligada ao uso da ferramenta digital.

É claro que a questão de custo e de conhecimento, tende a se resolver naturalmente com aumento de demanda por estas coisas, mas isso leva um tempo.

Do ponto de vista de funcionários, colaboradores, executivos, prestadores de serviço, enfim cidadãos,  existem vários desafios adaptativos pela frente antes de mergulhar nesse Novo Mundo.

Eu poderia estar aqui discorrendo estes problemas e desafios e levaria mais umas 6 páginas..., mas imagine, por exemplo, o quanto você está preparado para pegar uma fila digital. Será que nosso bonequinho vai ficar sentado numa sala de espera? Ou você vai receber uma senha para poder fazer um acesso quando você for chamado, sei lá, umas 3 da manhã?

Como você pode ver, o Metaverso vai vir de qualquer forma e vai contribuir para melhorar a vida das pessoas. Mas teremos que abrir mão de algumas coisas, que nos são inerentes como seres humanos, como a socialização, a externalização de emoções, e a própria sensação de segurança em nossos negócios e relações.

Por falar em sentimentos, a cereja do bolo dos desafios atuais fica por conta do uso da inteligência artificial (IA). Não é adorável quando você tem que entrar em contato com uma empresa e a IA te atende? Antigamente nós ficávamos no: “digite um para isso 2 para aquilo”, e depois de novo “um para isso e 2 para aquilo...” mais recentemente, você diz o que você quer, e a máquina entende, por exemplo:

IA: olá! Obrigado pelo seu contato! Diga seu problema para que eu te ajude.
Humano: Meu produto precisa de atendimento em garantia.
IA: Ok. Entendi. Você quer comprar uma Franquia. Aguarde que já te passo ao setor.
IA continua: no momento estamos com todos os ramais ocupados. Ligue novamente, obrigado!

Eu creio que o conselho por hora, é procurar encarar esta evolução. As coisas não acontecem do dia para a noite como talvez nós gostaríamos. A verdade é que ainda temos muito problema no sistema bancário, por exemplo, nos autoatendimentos ou aplicativos, com pessoas que ainda têm dificuldade para se relacionar digitalmente, sem contar aquelas que habitam regiões com pouca infraestrutura, e que têm muitas vezes dificuldade nesses acessos.

Isto sem contar com os crimes digitais, e os famigerados golpes de engenharia social.

As empresas têm tempo para se adaptar, mas devem começar já. Este começo resume-se principalmente em respeitar as tecnologias remotas, que foram largamente utilizadas no período de pandemia. Procurar mesclar trabalhos remotos, sempre que possível, é uma prática que traz efeitos colaterais benéficos, com redução de custos de transporte, diminuição de impactos ambientais, melhoria na qualidade de vida do indivíduo entre outros.

Eu penso que o grande diferencial neste momento de trabalho remoto, atendimentos digitais, utilização de inteligência artificial, autoatendimento por aplicativos, indústria 4.0, e no próprio Metaverso seja, paradoxalmente, o fator humano.

Estas tecnologias têm que manter o conceito de excelência, que parece estar um pouco esquecido ultimamente sob a desculpa da praticidade. Excelência significa ser perfeito no que você faz ou oferece, isto inclui os atendimentos e os relacionamentos com clientes e fornecedores. Da mesma forma, o relacionamento com o cidadão do ponto de vista de uma autarquia.

Ser prático nunca foi sinônimo de ser ruim. É isso que tem que ser o pano de fundo atrás de qualquer tecnologia. Se o processo automatizado tiver isso em mente, o sucesso no Metaverso estará bem mais seguro.

Então, não se preocupe. O Metaverso não é uma mudança das leis da física e da vida. Bons atendimentos continuarão a ser grandes diferenciais, assim como técnicas de liderança e tantas outras coisas que você vem aprendendo há tanto tempo.

Sucesso!


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